As vezes me sinto tão estranha, é uma saudade que me invade a alma, que me toma por inteiro e que quase sempre me leva as lágrimas, sozinha, escondida, para ninguém ver aqui em casa!!! Eu sinto muito ainda a perda do meu Lucas, é como diz a frase de Clarice Lispector, que achei esta semana, "Sinto a falta dele como se me faltasse um dente da frente. Excrucitante"...é exatamente assim que me sinto!!! Eu lembro de tudo que eu vivi durante a gravidez e mais ainda, tudo, exatamente tudo, os cheiros, as vozes, as pessoas, toda a movimentação daquele dia em que ele se foi. Como é forte, como posso me lembrar de tudo como se tivesse acontecido ontem? Muitos podem me julgar, me cobrar, mas eu luto cada dia para vencer este sentimento de vazio e não deixar que ele seja maior que eu. Ainda podem me perguntar: mas e seus filhos não preenchem este vazio? Digo a vocês que são dois mundos completamente diferentes, paralelos, eles não se completam, parece que sou duas pessoas, que vivi duas vidas em uma só. Sou a mulher com o Lucas e a mulher com meus filhos hoje, minha vida foi até dia 15 de janeiro de 2011 e depois recomeçou novamente no dia 13 de junho de 2012 quando meus filhos nasceram, não consigo me "unir", se é que me entendem. Eu sou muito machucada ainda, hoje em dia eu não fico como antes, desesperada, enlouquecida, mas hoje eu sinto uma necessidade de explicar, de tentar me reencontrar dentro desse turbilhão de emoções...sou muito feliz, realizada com meus filhos, mas ao mesmo tempo, a outra parte de mim, viveu e sofreu muito com a perda do meu primeiro filho. As vezes eu penso que deveria ter "vivido o luto" por mais tempo, para me recuperar inteiramente, mas ao mesmo tempo penso que se tivesse vivido, poderia ter me entregado a tristeza e a depressão e não conseguiria seguir em frente. Ainda continuo lendo histórias tristes de perdas, cada dia me deparo com um comentário, com uma história, e sempre digo as pessoas que a dor vai encontrar uma forma diferente com o passar do tempo e realmente passa aquele desespero, mas a dor se transforma em algo muito mais profundo, muito mais racional, é aquela dor que vai de mansinho lá no fundo da alma. Não sei como seria a minha vida com ele, não sei como eu seria como pessoa, talvez a perda tenha realmente me transformado em uma pessoa melhor, (eu espero), porque hoje em dia eu paro para ver a dor do outro, eu me compadeço, procuro dividir minhas experiências, se não tivesse passado por isto nem sequer estaria aqui...talvez uma "missão", não sei!!!!
To aqui escrevendo e vendo minha filha brincando com o pai dela no sofá, eles se divertem e eu fico babando em ver essa cena, mas vem as comparações e os pensamentos fluem, penso que se ele estivesse aqui estaria também brincando com a gente. Confesso para vocês que eu senti que algo poderia estar acontecendo com ele, eu só não sabia explicar o que, parece que ele se comunicava comigo, me pedia socorro e eu não soube interpretar. Penso, em meus devaneios, melhor palavra que encontrei, que ele pudesse estar sentindo alguma dor, meu Deus "hipoxia por aspiração meconial", deduzo tanta coisa que ele tenha passado, mas acalmo meu coração porque o medico disse que não existia a menor possibilidade dele sofrer..
São tantas coisas, tantas emoções, foram tantos gritos engolidos quando tudo aconteceu...recordo-me que quando voltei pra casa as pessoas vinham me visitar e eu não dizia coisa com coisa, as vezes chorava, mas hoje que vejo o quanto aquilo era cruel, estava em choque e ele me deixou paralisada, quando eu caí na real, quando entendi que tudo tinha acontecido eu entrei num sofrimento profundo, eu queria desistir de tudo, de viver, pensar me cansava, desgostei da vida. Foi um longo processo, se não fosse meu marido, que foi muito mais forte que eu, que não me deixava "morrer" mais ainda, eu não suportaria. Meus pais, gente eu via que eles estavam tão tristes e ao mesmo tempo eles faziam um esforço imenso para ficarem bem, diziam que tudo ia passar, foi tão avassalador, que há poucos dias uma pessoa inocente me falou assim: "nossa seu pai ia lá em casa e chorava muito por causa do Lucas..." gente quando eu ouvi isso eu assustei porque ele nunca demonstrou isso pra mim, sempre forte, decidido, dizendo que isto acontecia e que a vida era assim mesmo...pobre coitado, morria aos poucos por dentro. Minha mãe, não tocava muito no assunto, ela enchia os olhos de lágrimas, mas disfarçava...
Hoje em dia os meninos são tudo para eles e vejo o quanto Lucas seria amado...
Amigas, não se assustem com este desabafo, mas sabe, há dias eu venho ensaiando isto, querendo dizer como foi tudo e como isto ainda me influencia...estou bem, feliz, realizada, mas como disse, é algo inexplicável, sou eu com Lucas e eu mãe dos meus pequenos, são duas vidas, pareço duas pessoas...
Muito confuso não é, mas precisava desabafar!!!!